Interstellar

O planeta terra está a tornar-se impróprio para consumo. Atingido por fantasmagóricas nuvens de poeira e tendo apenas o milho como fonte de alimento, a população mundial parece estar condenada. Eis então que um piloto, convertido entretanto em agricultor hi-tec, deixa a família para trás e volta novamente aos comandos de uma nave para fazer uma viagem até outra galáxia (e Marte aqui tão perto...) em busca de um planeta onde se possam montar uns pré-fabricados e finalmente voltar-se a comer um bom hamburguer sem pó.

Parece que de tempos em tempos somos brindados com um daqueles filmes cheios de jargões técnicos e delirantes apontamentos psicadélicos, em que fica muita coisa por explicar e muito mais ficamos sem perceber, por muito que as personagens se esforcem por nos elucidar. Talvez a necessidade de assombramento seja coisa que tenha ficado dos nossos antepassados, quando viram o cinema pela primeira vez e se renderam à evidência da sua ignorância perante o inexplicável. Filmes como Solaris, Contact, ou o célebre 2001, fizeram-nos sentir isso mesmo.
Este Interstellar é um digno herdeiro desta tradição de surrealismo cientifico, mas com a agravante de ter demasiadas coisas mal explicadas. O filme recupera inclusive o famoso monólito de 2001 e faz-lhe um upgrade considerável, ao dotá-lo de luzinhas, sentido de humor, a capacidade de andar, falar e fazer todo o tipo de habilidades e malabarismos. Esta opção estética dos robots do filme é ao mesmo tempo interessante e discutível...
O filme tem um argumento mais inteligente que criativo, muito bem trabalhado, cruzando uma teia de emoções fortes entre as personagens, jogando com as implicações da teoria da relatividade, mas só consegue ser digerido até ao fim muito por mérito das excelentes interpretações e efeitos especiais. Sem actores do calibre de um Matthew McConaughey, dificilmente alcançaria o consenso e o prestigio que já alcançou entre o público e a crítica. Basta ver uma das cenas finais, desnecessária por sinal, interpretada por uma actriz anónima já idosa, para se sentir imediatamente o filme a perder 'gravidade'.
Sou o primeiro a assinar uma petição para o Christopher Nolan voltar aos Batmans.

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