Alien: Covenant

A tripulação da Covenant é acordada do seu sono criogénico devido a um fenómeno espacial que danifica a nave. Simultaneamente recebe uma mensagem humana vinda de um planeta desconhecido. Decidem ir investigar...

Questão prévia: se Prometheus, nome da nave, foi Prometheus nome do filme, porque é que Alien: Covenant não foi apenas também Covenant, nome da nave ?
Um aviso: há spoilers nesta análise ao filme.
Um nota: o (infeliz) cartaz do filme, não tem nada a ver com o filme.

A premissa inicial deste Alien Covenant é muito semelhante à do primeiro Alien. O filme tem o seu prólogo num ambiente clínico e ultra estilizado, onde acompanhamos Mr. Weyland (novo) no seu refugio hi-tech em amena cavaqueira com uma das suas criações, um humanóide sintético semelhante a David. Durante alguns longos e penosos minutos de conversa pseudo filosófica, voltamos a gramar esse monumental erro de casting chamado Guy Pearce. Esta longa cena inicial, que pretende injectar no filme uma certa dose de filosofia existencial que já tinha sido por demais retratada no anterior Prometheus, era desnecessária mas encerra algumas curiosidades. A primeira, a grande janela exposta para uma cadeia de montanhas, tal como tinha Adolf Hitler no seu refugio de montanha em Obersalzberg. Depois a musica que o android irá tocar ao piano, da autoria de Wagner, por sinal o compositor preferido do também ditador alemão. As alusões a Wagner e a Valhala, tão caras a Hitler, serão também retomadas mais tarde no filme.
Ambos, Hitler e Mr. Weyland, tinham em comum, portanto, o sonho de criarem uma raça superior, ainda que o segundo, uma raça sintética.

Em Prometheus, Ridley Scott injectou na mitologia Alien uma série de conceitos novos, afastando assim o espectro de "mais do mesmo" para onde previsivelmente novos filmes poderiam levar qualquer história com os terríveis xenomorfos. Scott pegou naquela fascinante ponta solta do primeiro filme, a nave dos ovos e o seu piloto que parecia fossilizado, para nos apresentar os Engenheiros, seres extraterrestres que teriam sido responsáveis pela criação da vida no nosso planeta. Os Engenheiros são seres imponentes, misterioros, com uma tecnologia altamente avançada, insondáveis, inalcansáveis. Ora o que o realizador faz neste Alien Covenant é desbaratar completamente este capital quando, num evento demasiado redutor, dizima totalmente os Engenheiros que, estupidamente, todos, sem excepção se reúnem para dar as boas vindas a uma nave que os vai bombardear com o agente tóxico que vimos em Prometheus. A enorme praça onde se verifica esta reunião, pela sua dimensão descomunal e forma, parece ter sido planeada de propósito para a matança. E a julgar pelo que nos é dado a ver no filme, semelhante civilização tão avançada, capaz de construir gigantescas naves especiais, viveria toda no mesmo planeta, no mesmo local... Houve uma clara inabilidade dos argumentistas desta sequela em aproveitar o que Prometheus tinha de fascinante.

Feito o genocídio resta-nos um andróide psicopata que vai levar a melhor sobre um andróide bonzinho. Depois, dois ou três xenomorfos e variações sobre o mesmo tema, novas formas de infecção (através de plantas que deitam esporos!...), muita choradeira, pouco medo e nenhuma tensão. Ou seja, tudo o que foram pontos fortes nos anteriores filmes, desaparece! À excepção do xenomorfo alien que (em boa hora) retorna na forma (quase) original do primeiro filme, com a agressividade e tenacidade que o caracterizava.

Existirá apesar de tudo um momento de verdadeira tensão no filme, quando o xenomorfo "beluga" fica frente a frente com o andróide David em aparente estado "WTF! quem é este gajo?" Se o Alien é um monstro desprovido de qualquer sentimento que não seja um ódio predatório puro, o "beluga" deixa-nos confusos...a cena termina abruptamente sem que saibamos o que poderia sair dali...

Os actores escolhidos para este Alien Covenant destacam-se todos pela sua ausência de carisma. Daniels, que assume injustamente o maior protagonismo entre as personagens humanas, é um downgrade significativo da Dra. Elizabeth Shaw, esta uma excelente personagem que não chega a transitar para este filme, merecendo uma morte sem história. Daniels passa todo o filme praticamente a chorar (ou com cara disso) primeiro porque perde o marido, depois porque perde colegas, depois porque sim. Quando confrontada com um monstro que jamais imaginara existir, e quando seria de esperar que fizesse xixi nas calças, ao invés transforma-se numa space marine, da melhor estirpe, para o enfrentar.
Depois há os diálogos desajustados, várias inconsistências e a falta de bom senso e rigor cientifico, coisas que infelizmente já abundavam em Prometheus mas que nós até tínhamos perdoado. Chegar a um planeta completamente desconhecido, abrir as portas da nave e dizer "parece que o ar é bom" é disto um exemplo.
A certa altura acontece o inimaginável, quando nos diálogos surge a palavra "Coitadinha!" e até nem falta uma comovente cena gay de despedida.. Novo momento gay mais tarde surge novamente entre os andróides, depois de uma entediante lição de pifaro entre os dois (e aqui estou ser literal, pifaro, ou flauta, mesmo).

Por falar em música, cada filme sempre contou com um compositor diferente (Jerry Goldsmith, James Horner, Elliot Goldenthal, John Frizzell, Marc Streitenfeld). Este segue a tradição, agora com o compositor Jed Kurzel que não se sai mal mas, ao longo do filme, são vários os trechos resgatados quer do primeiro Alien, quer de Prometheus, descaracterizando o ambiente sonoro que acaba por ser menos personalizado do que o dos antecessores filmes.

Resumindo, Alien Covenant é o pior de todos os aliens. Mas como é um Alien, tem de ser visto. E, muito provavelmente, revisto. Embora seguramente haja muito menos para redescobrir do que houve em qualquer outro filme Alien. Estou bastante curioso para rever o plano que revela o local onde David diz ter enterrado a Dra. Shaw, num jardim que parece uma reprodução do quadro de Arnold Bocklin, "The Island of The Dead".

Se James Cameron já tivesse falecido estaria a dar voltas na tumba a esta hora. Assim esperemos que continue bem vivo, retorne das profundezas dos oceanos, consiga dar a volta mas aos executivos da Fox para o deixarem voltar aos comandos e retornar ao espaço profundo. E já nem falo em David Fincher (Alien 3) ou do genial Jeunet (Alien 4) que seriam também muito benvindos. Falaria também de Neill Blomkamp mas parece que o seu anunciado Alien 5 nunca sairá do papel.

A fórmula de Scott parece esgotada. O seu cinema competente consegue sempre de alguma forma surpreender mas não é capaz de criar o impacto que os quatro primeiros filmes tiveram. É certo que a trama tem-se tornado complexa mas igualmente mal explicada. Eventualmente esta prequela precisa (e merece) ser ligada ao fio condutor que se iniciou em Alien, coisa que o realizador se propõe fazer no próximo filme.

Vi este filme em 4DX, experiência que, com toda certeza, não irei repetir. "Jamais!". Os "efeitos especiais" com que somos brindados, resumem-se a burrifadelas de água, fumos, cheiros a perfume barato, luzes estroboscópicas e safanões na cadeira. Tudo nem sempre bem contextualizado e sincronizado com as imagens que vemos, servindo apenas para contaminar a experiência de ver cinema.

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