Esqueçam a intensidade e a brutalidade das cenas do primeiro filme, aquilo que foi um inesperado mergulho numa irrealidade que nos era, afinal, tão familiar e que de forma surpreendente contaminava o universo mais linear e limpo dos super-heróis, neste caso, da DC Comics.
Esqueçam aquela visão urbano-depressiva do personagem Joker e dos cenários asfixiantes, o choque e as inúmeras cenas icónicas, que resultaram num filme adulto e um marco importante na história do cinema.
Joker 2 tem tudo o que, 99% das vezes, se pode esperar duma sequela: é pior que o filme que lhe deu origem. Mas neste caso, vai mais além. O filme é mau e podia ser só mau, mas como tem (vá lá saber-se porquê) uma verve musical, o mau é a dobrar.
Chega a ser um atentado ao bom gosto quando inevitavelmente o comparamos com o primeiro filme. E o problema até podia residir aí: a fasquia ser demasiado alta. Mas o esforço para a ultrapassar, foi mínimo. A forma deste segundo capítulo, se fosse o primeiro, talvez resultasse, mesmo com um conteúdo, maus diálogos e os clichês que por ali abundam. Mas esta era uma continuação, não uma obra estaque.
Um Joker 2 teria de necessariamente se alimentar não só do primeiro filme como também do universo criado pela DC tão brilhantemente anteriormente reinventado. Ora, neste Joker, parece que nasceu de uma permissa: enfiar ali a Lady Gaga. E depois montar uma história que ligasse o que afinal não era possível ligar. Se no primeiro era Joker o desligado, o inadaptado, neste segundo capítulo, é tudo à sua volta que não funciona, permanecendo Phoenix, estoicamente aos comandos de um barco que não consegue evitar que naufrague.
Nem Gotham se safa, muito mais ligada ou parecida com Nova Iorque sem as referências arquitetónicas ou a ambiência próprias que marcaram outras produções.
A namorada do Joker nunca deixa de ser Lady Gaga. O botox dos lábios da cantora que não é atriz parece ser sempre o protagonista em cada frame em que aparece. Não a salva ou nos distrai de uma interpretação pouco convincente, sem o brilho e a energia da concorrência (leia-se, Margot Robbie).
O filme desilude, chega a ser penoso de assistir até ao fim. Curiosamente, quando tudo parece completamente perdido, acontece aquela cena quase final (SPOILER: a explosão no tribunal) que podia muito bem ser um bom ponto de partida para o Joker 2 que o cinema (e nós) merecia… E as duas horas anteriores serem apenas um sonho mau do louco.
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