Começou como uma adaptação inocente do universo de E.C. Segar e terminou como uma experiência antropológica sobre até onde a paciência humana pode esticar antes de partir.
Primeiro, convém lembrar que o realizador é o improvável Robert Altman, um homem célebre pelas suas narrativas complexas. Desta vez, pegou numa história simples – marinheiro musculado come espinafres, salva Olive Oyl e dá porrada em Brutus – e decidiu transformá-la num musical surrealista com cenários que parecem ter sido construídos por um carpinteiro com vertigens e pintados por alguém que confunde cores primárias com um ataque epilético.
E depois temos Robin Williams, no seu primeiro papel no grande ecrã, mumificado em próteses para se parecer com o Popeye. O resultado? Uma interpretação que parece uma mistura entre um marinheiro bêbedo e um paciente em desmame de nicotina. Curiosamente, Williams já mostrava talento – só que estava enterrado sob grunhidos incompreensíveis, porque aparentemente ninguém na produção achou que a articulação das palavras fosse relevante.
Mas a verdadeira joia desta coroa é Shelley Duvall como Olive Oyl, num casting perfeito! Duvall não interpreta Olive, ela é Olive: esquelética, desengonçada e permanentemente à beira de um colapso nervoso. É a única coisa que faz sentido no meio desta ópera náutica.
Harry Nilsson compôs um alinhamento musical tão memorável que ninguém, absolutamente ninguém, se lembra de uma única letra. Há um tema chamado "He’s Large" (dedicado ao Brutus), que soa como um ensaio de coral infantil com febre.
No entanto, talvez o mais impressionante em Popeye não seja a narrativa (inexistente), nem a direção artística (inspirada num sketch do Monty Python após um golpe na cabeça), mas a confiança. Este filme acredita piamente que é uma obra-prima. Ele apresenta as suas canções desafinadas, os seus diálogos incoerentes e a sua estética de parque temático abandonado, como se estivesse a reinventar o cinema. Spoiler: não está.
No final do dia, Popeye é uma espécie de quadro de Hieronymus Bosch para crianças, uma fábula grotesca que não sabemos se devemos levar a sério ou internar. É um filme tão único que só poderia ter saído dos anos 80 – uma década em que os estúdios tinham dinheiro, cocaína e zero noção de limites.
Veredicto final: um desastre fascinante, um monumento ao excesso, para ser visto uma vez e lembrado para sempre porque a todo o momento podemos entrar numa discussão sobre qual a pior adaptação de uma BD de sempre, e ganhar.
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