A pacata cidade costeira de Antonio Bay prepara-se para festejar cem anos de existência, enquanto uma névoa sobrenatural avança lentamente do mar, trazendo consigo marinheiros espectrais armados de ganchos e uma elevada dose de ressentimento. À medida que tudo parece avariar-se e pessoas desaparecem, descobre-se que a cidade foi construída sobre um pequeno detalhe inconveniente e o nevoeiro vem agora para cobrar.
The Fog revela hoje uma eficácia que o tempo só veio acentuar. As cenas da névoa e a aparição dos marinheiros espectrais são visualmente muito impactantes, não pelo excesso, mas pela contenção e pela forma como Carpenter coreografa os movimentos, os ataques e os silêncios, tratando cada morte quase como um gesto ritual.
Há uma preocupação clara com a estética e a encenação, onde o horror nasce mais da sugestão do que da exposição direta. Curiosamente, é um filme que, visto na altura da estreia, pareceu-me menos assustador do que hoje, quase meio século depois. Talvez pelo seu ritmo paciente e a sua sobriedade que contrastam em muito com o ruído do terror contemporâneo.
Grande parte da eficácia do filme reside também na ausência de efeitos digitais, de blue screen ou de artifícios tecnológicos agora usados até à exaustão. A névoa é física, ocupa o espaço, avança com peso e intenção, e isso torna o ambiente verdadeiramente opressivo.
A somar a isso, o filme retrata uma certa candura perdida: a vida numa pequena cidade à beira-mar, onde as relações são próximas, quase familiares, e onde ainda existe uma sensação de comunidade que hoje soa a ficção.
Tudo isto faz de The Fog mais uma prova da genialidade de John Carpenter, da seriedade com que encarava o seu cinema e da total indiferença a concessões ao politicamente correto ou ao facilmente comercial.
Um terror clássico, honesto e eficaz, que envelheceu muito bem.

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