Naboer | Next Door | Algumas portas nunca deviam ser abertas

Acabado de sair duma relação e emocionalmente vulnerável, John aceita cortêsmente ajudar as suas belas vizinhas que, convenientemente, sabem demasiado da sua vida pessoal. Irá envolver-se num labirinto de jogos psicológicos, manipulações sexuais e encontros que desfazem completamente a linha entre realidade e a fantasia, caindo numa armadilha mental montada e culminando numa espiral de confusão existencial.

É um Hitchcock com esteroides, pegando na obsessão, no voyeurismo e na culpa e levando-as para um território mais agressivo, sensorial e perturbador. A ambiência do filme bebe claramente da herança de David Lynch, na forma como o espaço, o som e o comportamento das personagens criam uma sensação constante de irrealidade. 

A viagem ao cérebro humano, a mentes em colapso, é sempre fascinante. Aqui estamos perante um mecanismo de defesa, um labirinto psicológico onde a realidade se molda às necessidades emocionais do protagonista, funcionando como uma descida ao inferno do sentimento de culpa, mostrando como a mente é capaz de construir narrativas alternativas, fantasias e distorções para sobreviver ao trauma. 

Mais do que um simples thriller erótico ou psicológico, Naboer interessa-se pelo modo como o cérebro organiza o caos interior, criando inimigos, desejos e situações extremas como forma de enfrentar ou esconder aquilo que não consegue aceitar. 

É um cinema inquietante, que desconforta precisamente porque nunca deixa claro onde termina a realidade e começa o mecanismo de autopreservação, transformando a culpa num espaço físico e mental do qual é impossível sair ileso.

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