Man-su tem uma vida feliz, na sua casa de sonho, com a mulher, filhos e dois cães. Depois de 25 anos de serviço fiel, é despedido de uma empresa de fabrico de papel e em vez de atualizar o CV ou fazer networking,
resolve garantir o emprego eliminando um a um todos os seus concorrentes potencialmente inconvenientes, numa espiral que transforma a sua busca desesperada por estabilidade familiar numa série de encontros cada vez mais mortíferos com quem ousa querer a mesma vaga que ele.
Há filmes que procuram estimular a inteligência do espectador e há outros que, como este, optam por transformar essa estimulação num verdadeiro exercício de montagem mental. A narrativa exige concentração constante, não tanto pela complexidade gratuita, mas porque o filme salta deliberadamente por cima do óbvio, omitindo explicações fáceis e obrigando-nos a reorganizar a informação à medida que esta surge, muitas vezes de forma oblíqua ou insinuada.
Por baixo desse jogo narrativo está um tema pesado e muito concreto: o desemprego como drama social, particularmente relevante em certos contextos orientais, onde a perda de trabalho significa não apenas instabilidade económica, mas quebra de identidade, estatuto e dignidade.
O filme aborda esta realidade com um tom ambíguo, cruzando momentos quase cómicos com explosões de violência súbita, sem nunca cair propriamente no humor negro, mas também sem procurar conforto moral.
A personagem principal surge mais como caricatura do homem esmagado pelo sistema do que como herói ou vilão clássico, e é precisamente nessa distorção que o filme encontra parte da sua força. Curiosamente, é a personagem mais jovem, a filha, que, funciona como contraponto silencioso num mundo de adultos perdidos, onde a maturidade parece ser o primeiro emprego a desaparecer.
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