À beira de uma depressão, a atriz decide experimentar uma "substância" que promete transformá-la na "sua melhor versão"!
Um filme nostálgico, não pela história, mas por uma espécie de resgate do passado, sobre vários aspetos. Não é só a atriz Demi Moore que é resgatada de uma suposta travessia no deserto em que se encontrava, depois de se ter tornado numa atriz mainstream e protagonizado alguns dos mais famosos blockbusters dos anos 90. Renasce agora, supostamente para o papel da sua vida, como já li, coisa que considero um enorme exagero.
A própria Moore parece que nunca saiu daqueles anos 90. Se consegue apresentar uma atuação sólida, quando são os diálogos escassos, os silêncios e os close ups que dominam a narrativa durante grande parte do filme, a certa altura o guião brinda-a com mais abundantes deixas, onde ela claramente se espalha ao comprido. Aqui refiro-me concretamente à sequência onde a vemos a cozinhar, enquanto pragueja contra a "sua melhor versão", situação onde tem uma atuação caricatural, ao jeito dos anos 80 ou 90. Talvez se explique assim a sua travessia...
Depois é o cinema de body horror que é revisitado, vindo-nos à memória o cinema de Cronenberg, aqui catapultado para um outro nível, e ainda, os efeitos especiais, de caracterização, notando-se a ausência de efeitos digitais, voltando-se ao efeitos old school que víamos precisamente no cinema daquele realizador. Mas também em filmes como o "The Thing", de John Carpenter, e no profícuo cinema de terror dos anos 80, onde pontificavam realizadores de culto como Stuart Gordon (Re-animator, From Beyond) ou Clive Barker (Hellraiser), um tipo de cinema onde caberia na perfeição esta história da "substância", que tinha tudo para, naqueles tempos, naturalmente dar um excelente filme de série B.
E o que a realizadora da "substância" fez, de forma brilhante, foi pegar numa ideia delirante e transformá-la num filme eclético, que vai buscar também muita da sua eficácia à proximidade que temos com a Demi Moore e também, afinal, à proximidade que própria a atriz tem com a personagem, resultando numa reação química que reforça o nosso desconforto. Ela não é uma qualquer atriz semianónima, como as que participavam nos filmes dos mestres do terror das décadas de 80 e 90.
Por tudo isto, não podemos deixar de sentir alguma sensação de deja vu, quando assistimos a este filme, porque tudo nos remete para o passado.
É pena que a parte final do filme enverede por um exagero que era perfeitamente dispensável. O filme teve várias oportunidades para terminar de uma forma limpa, literalmente. Com muito menos sangue.