The Batman : Quando a DC descobriu os filtros do Instagram

Finalmente um filme que responde à pergunta que ninguém fez: E se o Batman tivesse uma conta no Tumblr, ouvisse Nirvana e escrevesse poesia gótica? 

Matt Reeves decidiu reinventar o Cavaleiro das Trevas como um adolescente deprimido preso no corpo de Robert Pattinson. Este Batman não é o playboy charmoso a que todos nos habituámos. Em vez de Wayne, temos o Bruce Emo, um homem que acredita que a maquilhagem preta à volta dos olhos é equipamento tático. E funciona, aparentemente. 

O filme é tão escuro que parece filmado dentro de uma caixa de sapatos. Com longos silêncios, olhares intensos e cenas de chuva eterna, não é um filme, é publicidade gratuita aos guarda-chuvas. 

O inimigo do morcego deprimido é um serial killer inspirado no Zodiac, mas com menos carisma. Matt Reeves decidiu que charadas infantis não eram suficientemente “adultas”, então transformou o personagem num incel com live streams. Parece que nada grita mais “medo” como um sociopata que pede likes. E depois temos uma Catwoman, linda, carismática, cheia de potencial – e ainda assim condenada a passar metade do tempo a sussurrar... 

A cereja no topo é a banda sonora. Um arranjo épico que parece ter sido composto para avisar: “Prepare-se, está a chegar mais uma cena do Batman a andar devagar.” 

No fundo, The Batman é uma carta de amor aos fãs que sempre acharam que Nolan era “demasiado mainstream”. É o Batman para quem acha que Seven precisava de mais capas e menos luz. Uma obra que confunde “sério” com “monótono” e acredita piamente que chuva + sombras + Pattinson cabisbaixo = profundidade existencial. 

Veredicto final: Uma experiência cinematográfica que vai agradar a quem acha que cada frame deve ser um wallpaper deprimente. 

Se gostou do filme, aqui ficam algumas dicas para não ficar mal numa discussão: 

- “Finalmente, um filme que entende a psicologia sombria de Gotham.” 
Tradução: “É tão escuro que não vi metade das cenas, mas parece profundo.” 

- “Claramente uma obra influenciada por Seven e Zodiac, mas com uma textura mais... poética.” Ninguém vai questionar o que “textura poética” significa. 

- “É um neo-noir urbano que desconstrói o mito do herói.” 
Sim, é só Batman com chuva e voz off, mas dizer “neo-noir” faz-te parecer que tens uma tese guardada. 

- “Pattinson traz uma vulnerabilidade existencial que expõe a ferida emocional do vigilante.” 
Tradução: “Ele parece triste, e isso é cool.” 

- “As três horas de filme são um mergulho necessário na alma corrompida da cidade.” 
Ainda a procissão vai no adro e as pipocas já acabaram.

- “Quem acha que é só mais um filme de super-heróis não percebe a crítica estrutural ao fascismo implícito no conceito de vigilância.” 
Boom. Conversa terminada. Eles vão fingir que entenderam. 

- “No fim, The Batman não é sobre justiça… é sobre a inevitabilidade da escuridão dentro de nós.” 
Traduzindo: “O filme acabou e ainda não sei o que vi, mas soou inteligente.”

Popeye - Quando Hollywood decidiu misturar espinafres com LSD

Um épico cinematográfico que prova que nem todos os crossovers entre banda desenhada e cinema devem acontecer. 
Começou como uma adaptação inocente do universo de E.C. Segar e terminou como uma experiência antropológica sobre até onde a paciência humana pode esticar antes de partir. 

Primeiro, convém lembrar que o realizador é o improvável Robert Altman, um homem célebre pelas suas narrativas complexas. Desta vez, pegou numa história simples – marinheiro musculado come espinafres, salva Olive Oyl e dá porrada em Brutus – e decidiu transformá-la num musical surrealista com cenários que parecem ter sido construídos por um carpinteiro com vertigens e pintados por alguém que confunde cores primárias com um ataque epilético. 

E depois temos Robin Williams, no seu primeiro papel no grande ecrã, mumificado em próteses para se parecer com o Popeye. O resultado? Uma interpretação que parece uma mistura entre um marinheiro bêbedo e um paciente em desmame de nicotina. Curiosamente, Williams já mostrava talento – só que estava enterrado sob grunhidos incompreensíveis, porque aparentemente ninguém na produção achou que a articulação das palavras fosse relevante. 

Mas a verdadeira joia desta coroa é Shelley Duvall como Olive Oyl, num casting perfeito! Duvall não interpreta Olive, ela é Olive: esquelética, desengonçada e permanentemente à beira de um colapso nervoso. É a única coisa que faz sentido no meio desta ópera náutica. 

Harry Nilsson compôs um alinhamento musical tão memorável que ninguém, absolutamente ninguém, se lembra de uma única letra. Há um tema chamado "He’s Large" (dedicado ao Brutus), que soa como um ensaio de coral infantil com febre. 

No entanto, talvez o mais impressionante em Popeye não seja a narrativa (inexistente), nem a direção artística (inspirada num sketch do Monty Python após um golpe na cabeça), mas a confiança. Este filme acredita piamente que é uma obra-prima. Ele apresenta as suas canções desafinadas, os seus diálogos incoerentes e a sua estética de parque temático abandonado, como se estivesse a reinventar o cinema. Spoiler: não está. 

No final do dia, Popeye é uma espécie de quadro de Hieronymus Bosch para crianças, uma fábula grotesca que não sabemos se devemos levar a sério ou internar. É um filme tão único que só poderia ter saído dos anos 80 – uma década em que os estúdios tinham dinheiro, cocaína e zero noção de limites. 

Veredicto final: um desastre fascinante, um monumento ao excesso, para ser visto uma vez e lembrado para sempre porque a todo o momento podemos entrar numa discussão sobre qual a pior adaptação de uma BD de sempre, e ganhar.

Substance, The | Substâcia, A

Uma atriz em decadência (Demi Moore), a acusar o peso da idade, vê-se despedida do programa de ginástica que apresenta, preferindo agora o esgazeado produtor do canal de TV (Dennis Quaid) alguém mais jovem para a substituir...

À beira de uma depressão, a atriz decide experimentar uma "substância" que promete transformá-la na "sua melhor versão"!

Um filme nostálgico, não pela história, mas por uma espécie de resgate do passado, sobre vários aspetos. Não é só a atriz Demi Moore que é resgatada de uma suposta travessia no deserto em que se encontrava, depois de se ter tornado numa atriz mainstream e protagonizado alguns dos mais famosos blockbusters dos anos 90. Renasce agora, supostamente para o papel da sua vida, como já li, coisa que considero um enorme exagero. 

A própria Moore parece que nunca saiu daqueles anos 90. Se consegue apresentar uma atuação sólida, quando são os diálogos escassos, os silêncios e os close ups que dominam a narrativa durante grande parte do filme, a certa altura o guião brinda-a com mais abundantes deixas, onde ela claramente se espalha ao comprido. Aqui refiro-me concretamente à sequência onde a vemos a cozinhar, enquanto pragueja contra a "sua melhor versão", situação onde tem uma atuação caricatural, ao jeito dos anos 80 ou 90. Talvez se explique assim a sua travessia...

Depois é o cinema de body horror que é revisitado, vindo-nos à memória o cinema de Cronenberg, aqui catapultado para um outro nível, e ainda, os efeitos especiais, de caracterização, notando-se a ausência de efeitos digitais, voltando-se ao efeitos old school que víamos precisamente no cinema daquele realizador. Mas também em filmes como o "The Thing", de John Carpenter, e no profícuo cinema de terror dos anos 80, onde pontificavam realizadores de culto como Stuart Gordon (Re-animator, From Beyond) ou Clive Barker (Hellraiser), um tipo de cinema onde caberia na perfeição esta história da "substância", que tinha tudo para, naqueles tempos, naturalmente dar um excelente filme de série B.

E o que a realizadora da "substância" fez, de forma brilhante, foi pegar numa ideia delirante e transformá-la num filme eclético, que vai buscar também muita da sua eficácia à proximidade que temos com a Demi Moore e também, afinal, à proximidade que própria a atriz tem com a personagem, resultando numa reação química que reforça o nosso desconforto. Ela não é uma qualquer atriz semianónima, como as que participavam nos filmes dos mestres do terror das décadas de 80 e 90.  

Por tudo isto, não podemos deixar de sentir alguma sensação de deja vu, quando assistimos a este filme, porque tudo nos remete para o passado.

É pena que a parte final do filme enverede por um exagero que era perfeitamente dispensável. O filme teve várias oportunidades para terminar de uma forma limpa, literalmente. Com muito menos sangue.  


Joker: Folie à Deux

Joker encontra-se detido no asilo Arkham. É lá que conhece Lee, uma jovem que se encontra de passagem, numa aulinha de cantorias. Parece ter sido amor à primeira canção. A história de amor desenrola-se entre o asilo e a sala de audiências do tribunal encarregue de julgar o decrépito palhaço. 

Esqueçam a intensidade e a brutalidade das cenas do primeiro filme, aquilo que foi um inesperado mergulho numa irrealidade que nos era, afinal, tão familiar e que de forma surpreendente contaminava o universo mais linear e limpo dos super-heróis, neste caso, da DC Comics. 

Esqueçam aquela visão urbano-depressiva do personagem Joker e dos cenários asfixiantes, o choque e as inúmeras cenas icónicas, que resultaram num filme adulto e um marco importante na história do cinema. 

Joker 2 tem tudo o que, 99% das vezes, se pode esperar duma sequela: é pior que o filme que lhe deu origem. Mas neste caso, vai mais além. O filme é mau e podia ser só mau, mas como tem (vá lá saber-se porquê) uma verve musical, o mau é a dobrar. 

Chega a ser um atentado ao bom gosto quando inevitavelmente o comparamos com o primeiro filme. E o problema até podia residir aí: a fasquia ser demasiado alta. Mas o esforço para a ultrapassar, foi mínimo. A forma deste segundo capítulo, se fosse o primeiro, talvez resultasse, mesmo com um conteúdo, maus diálogos e os clichês que por ali abundam. Mas esta era uma continuação, não uma obra estaque.

Um Joker 2 teria de necessariamente se alimentar não só do primeiro filme como também do universo criado pela DC tão brilhantemente anteriormente reinventado. Ora, neste Joker, parece que nasceu de uma permissa: enfiar ali a Lady Gaga. E depois montar uma história que ligasse o que afinal não era possível ligar. Se no primeiro era Joker o desligado, o inadaptado, neste segundo capítulo, é tudo à sua volta que não funciona, permanecendo Phoenix, estoicamente aos comandos de um barco que não consegue evitar que naufrague. 

Nem Gotham se safa, muito mais ligada ou parecida com Nova Iorque sem as referências arquitetónicas ou a ambiência próprias que marcaram outras produções.

A namorada do Joker nunca deixa de ser Lady Gaga. O botox dos lábios da cantora que não é atriz parece ser sempre o protagonista em cada frame em que aparece. Não a salva ou nos distrai de uma interpretação pouco convincente, sem o brilho e a energia da concorrência (leia-se, Margot Robbie). 

O filme desilude, chega a ser penoso de assistir até ao fim. Curiosamente, quando tudo parece completamente perdido, acontece aquela cena quase final (SPOILER: a explosão no tribunal) que podia muito bem ser um bom ponto de partida para o Joker 2 que o cinema (e nós) merecia… E as duas horas anteriores serem apenas um sonho mau do louco.

Deep House, The

Um jovem casal entretém-se a visitar e filmar o interior de locais abandonados, na esperança de conseguir obter mais seguidores nas redes sociais e passar a ganhar a vida dessa forma.
De viagem por França, o objetivo è explorar uma casa abandonada, submersa debaixo de um lago... 

Variação sobre o tema das casas assombradas, aqui com a grande diferença de os fantasmas residirem debaixo de água a 30 metros de profundidade. 
O filme surpreende pela forma como supera o desafio técnico de nos proporcionar uma visita guiada ao interior de uma casa intacta mas submersa, com grande realismo e constante tensão. 

Alien: Romulus

Um grupo de jovens com trabalhos chatos numa colónia espacial, num planeta remoto, e com o desejo de fugirem para uma espécie de planeta paradisíaco (onde é possível ver o pôr do sol) a nove anos de viagem, decide ir buscar combustível a uma gigantesca nave esquecida / abandonada / à deriva.  

A nave é afinal um gigantesco complexo de pesquisas científicas que tempos antes recolhera do espaço um alien (aquele que foi bordafora no primeiro filme). 

A saga sempre resistiu (estoicamente) à "juvenilização" das suas personagens, coisa que há muito tomou conta do cinema americano... Até este 9.º capítulo, que aponta diretamente ao público pipoca, revisitando ou recriando vários momentos icónicos dos filmes anteriores, numa espécie de “best of”.

Até do (muito injustamente) mal amado Alien IV, foi buscar a ideia de um final onde somos brindados com um inesperado ser hibrido, meio humano, meio alien, e que, diga-se de passagem, é ainda mais questionável que o seu antecessor, ao nível do design... 

Este Romulus não introduz na saga nada de verdadeiramente novo, ao contrário dos anteriores Prometheus e Covenant, filmes muito mais conceptuais, que levantaram questões e tiveram o mérito de expandir o universo Alien, deixando inúmeras e até confusas pontas soltas, à espera de serem exploradas.

É contudo difícil não gostar deste filme. Estão lá a atenção aos pequenos detalhes, as bem balanceadas cenas de ação, de suspense e violência/terror que são também características dos cinemas de Ridley Scott e de Fede Alvarez. Com efeitos especiais e cenários deslumbrantes, não ficamos indiferentes ao espetáculo que esta superprodução proporciona.

Freud's Last Session - A Última Sessão de Freud

Um dia um produtor de cinema lembrou-se de produzir um filme com o Anthony Hopkins no papel de Freud. O filme parece reduzir-se a este aparentemente simples e eficaz objetivo, apostando na experiência, popularidade e carisma do ator, mas nem isso consegue alcançar. 

Vemos sempre muito mais Hopkins que Freud no ecran e conseguimos imaginar muito mais facilmente o Coronoel Sanders (KFC) com aquela personalidade  truculenta, que o psicanalista.
 
Vamos ser sinceros, este filme não acerta uma. Se o objetivo era ir mais além, apresentar-nos reflexões interessantes sobre Deus e a sexualidade, fica completamente aquém. As breves observações dos dois personagens dificilmente conseguem escapar ao óbvio, aos lugares comuns. 

A ação deambula entre as conversas supostamente profundas, temperadas ou interrompidas sempre com outras mais triviais (e desnecessárias) deixas, os flashbacks confusos, as imagens oníricas mal conseguidas e depois cenas com closeups que parecem desesperadamente querer fazer sair o filme da monotonia instalada e dar-lhe algum ecletismo.

Freud's Last Session é um filme completamente desnecessário e mesmo para quem o for ver sem grandes expetativas, será ainda assim difícil de sair da sala sem um sentimento de desilusão e sono.


Moonfall - Ameaça Lunar

A lua sai da sua órbita estacionária e começa a aproximar-se da Terra. Não se trata de um fenómeno natural mas antes causado de forma propositada por uma forma de inteligência artificial extraterrestre. 
Um ex-astronauta caído em desgraça, um maluquinhos das teorias da conspiração que passa a ser ex-maluquinho e uma ex-astronauta que se tornou entretanto manda chuva da NASA que tem o ex-marido no Pentágono, vão salvar o planeta, com a ajuda de uma ex-nave espacial que estava na sucata.

Com este filme Roland Emmerich passou definitivamente a ser um ex-mestre do cinema catástrofe. Não perde contudo o título de génio, não como criador ou inventor do género que teve o seu período áureo na década de 70 do século passado, mas como o homem que o revitalizou, por conta do recurso a doses generosas de efeitos especiais. Um génio, portanto, mas um génio oportunista. Emmerich está muito longe da genialidade. Este lamentável Moonfall, prova-o 

A vista privilegiada da cadeira do cinema para a monumentalidade dos cenários e das catástrofes sempre atraiu uma grande franja de público voyeur. À boleia das grandes cenas de destruição, somos servidos com pequenas histórias de pessoas mais ou menos comuns com indestrutíveis laços sentimentais entre si. São Davides que acabam sempre por derrotar os Golias.

Em nome de um final feliz, são demasiados os sacrifícios, os exageros e as inverossimilidades que se sucedem neste cinema Emmerichiano. Se fosse só isto, até se perdoava, porque é um tipo de cinema que apela apenas ao divertimento, à nossa saudável tentação pelo pecado intelectual. Mas os clichês são tantos, a montagem deste Moonfall está tão mal conseguida, a forma atabalhoada como se mete o Rossio na Betesga, que é impossível não dar por mal empregue o tempo e dinheiro gastos a ver a estopada.

Freaky - No Corpo de um Assassino

Durante o ataque de um serial killer a uma jovem estudante, ocorre um fenómeno atmosférico-paranormal que faz com que ambos troquem de corpo. A jovem tem de reverter o feitiço no prazo de 24 horas antes que a troca se torne definitiva... 

É um típico filme de terror de teenagers parecendo deixar isso bem claro logo no massacre inicial. Conta com momentos bem humorados e a curiosidade de ver o desajeitado e bom gigante Vince Vaughn a fazer o papel de uma jovem tímida. Do outro lado a atriz que faz de frágil jovem possuída pela personalidade do assassino, tem uma prestação muito bem conseguida.

Outback

Um casal jovem em crise de relacionamento decide fazer uma viagem pela Austrália. Apesar de ele ter o plano de viagem bem calculado, ela convence-o a se aventurarem por estradas secundárias que os vão levar ao interior desértico e perigoso... 

O filme cinge-se à realidade dos factos reais que o terão inspirado e acaba por ficar demasiadamente sujeito à ditadura do verosímil, numa história pouco empolgante e vaga, onde as personagens e os seus problemas existenciais estão longe de serem interessantes ou de criarem qualquer espécie de empatia com o espectador.

Saint Maud

Uma jovem beata completamente fanatizada pela religião, que julga ouvir  Deus, vê o seu trabalho de prestar tratamento paleativo a uma degenerada e pervertida lésbica dançarina que sofre de cancro terminal, como uma missão para a redimir. 

Uma interpretação prodigiosa e marcante da atriz Morfydd Clark e uma realização primorosa e claustrofóbica que dá destaque aos cenários sempre pouco iluminados e a alguns pormenores subtilmente assustadores, transformaram o filme em algo de incomum, com um ritmo por vezes monótono mas irresistível.

Alone

Uma mulher em processo de mudança interior faz sozinha uma viagem de carro, para mudar de casa. Durante o trajeto cruza-se com um automobilista com quem se volta a cruzar mais tarde por diversas vezes. Não há coincidências. O automobilista revela-se um psicopata com uma vida dupla e tem como intenção raptá-la... 

O filme trás á memória clássicos como o The Hitcher ou o Duel e consegue estar ao nível destes. A composição das (poucas) personagens está muito bem conseguida e o filme, daqueles a quem faltam só dois atores mais conhecidos e teria outra visibilidade, prende completamente. 

Host

Um grupo de raparigas confinadas nas suas casas resolve, com a ajuda de uma especialista na matéria, fazer uma sessão espírita online através da aplicação Zoom. O clima descontraído e até de gozo rapidamente é substituído pelo medo e desespero... 

O único objetivo do filme parece ter sido o de provocar medo. E nesse aspeto é terrivelmente eficaz, recorrendo a um punhado de jovens anónimas atrizes e tendo como económicos cenários os apartamentos onde vivem e onde se vão desencadear uma série de fenómenos paranormais. 
Nesta época de pandemia, aqui é o medo das jovens que nos contagia e chega até nós através de uma janela tão familiar como é o ecrán dos chats e das videoconferências. 
Com alguns truques de montagem que nos pregam valentes sustos, não chega a uma hora de duração mas parece durar uma eternidade...

Black Hollow Cage

Black Hollow Cage Poster Uma jovem adolescente vive com o pai isolada numa casa hi-tech, juntamente com uma cadela pastor-alemão que fala como se fosse sua mãe. A jovem irá descobrir uma caixa negra no meio do mato e a tranquilidade da família será perturbada com a chegada de um casal de irmãos, ela, alvo de violência por parte do namorado... 

Nunca se chega a perceber bem o que se está a passar neste filme eminentemente performático onde a arquitectura da casa exerce sobre o mesmo uma forte influência. Não a história mas os vários acontecimentos aparentemente desconexos conseguem-nos prender embora a uma letargia de onde nem no final, que podia ser revelador ou pelo menos esclarecedor, o filme sai. 
Até as cenas mais violentas não têm impacto, são de um dramatismo vazio e frio.
Boas interpretações para uma história demasiadamente conceptual que acaba por não resultar.

Jojo Rabbit

Jojo Rabbit PosterNos últimos dias da Segunda Guerra Mundial um jovem fanático nazi descobre que a mãe acolhe na sua própria casa uma judia. A criança vai acabar por descobrir que afinal os judeus não são aqueles monstros que os nazis adultos pintam... 

Jojo Rabbit aponta diretamente para o alvo dos Oscares mas não é por isso que deixa de ser um bom filme. Antes isso que apontar ao nosso lado mais sentimental e à inevitável lágrima como acontece habitualmente sempre que se misturam crianças e nazismo. 
Acima de tudo o filme não está nada preocupado em dar-nos lições de moral e em vez de expor o lado mauzão e cruel dos alemães, mostra-nos um lado também cruel mas igualmente ridículo e patético. 
O humor do filme é inteligente, a ideia da criança ter Adolf Hitler como amigo imaginário é genial, assim como a interpretação de Taika Waititi, que acumula este papel com o de realizador. 
Scarlett Johansson não está genial, apenas perfeita.

Guns Akimbo

Guns Akimbo PosterUm programador nerd pensa que anonimamente pode mandar umas bocas pela internet a uns bad guys que no entanto o descobrem e o colocam como personagem principal de um programa transmitido por um site online onde os participantes se degladiam a matar-se uns aos outros. Com armas aparafusadas a cada mão, vai ter de defrontar a melhor concorrente que, no entanto, com ele na mira, tem sempre uma péssima pontaria... 

Filme com ação non-stop, com planos delirantes e diversas sequências em super-slow motion onde as balas são as protagonistas, Guns Akimbo consegue divertir também do principio ao fim, com várias punch lines bem humoradas.

Deep Blue Sea 2

Deep Blue Sea 2 PosterUm milionário lunático patrocina um laboratório subaquático onde se fazem experiências com tubarões com o objetivo de encontrar um remédio que aumenta as capacidades dos humanos.

Só uns furinhos acima de uma produção típica da Asylum, é um daqueles filmes que dão muita má fama ás sequelas. Nem sequer o epíteto de "filme de tubarões" merece ter porque, começando pela personagem do milionário, acabando nos tubarõezinhos bebé, nada consegue ser convincente. 

Dead Silence | Silêncio Mortal

Silêncio Mortal PosterUm casal recebe uma encomenda misteriosa contendo um boneco de vetriloquo. O boneco parece estar vivo e funciona como uma forma de evocar a sua criadora que, mesmo morta há muito, busca vingança. Rapidamente faz uma vítima naquele lar feliz...

Entre a produção dos vários Saw (oito filmes, mais um anunciado para 2021), o trio Burg, Koules e Hoffman arranjou tempo para produzir (mais) este bom filme de terror com uma receita algo semelhante...
Os bonecos são deveras sinistros, a história é interessante e conta com um final bastante inesperado. 

Goodbye World

Goodbye World Poster Um vírus informático provoca o caos nas cidades ocidentais, ameaçando a existência da civilização humana. Um grupo de amigos confluem para a casa de um casal seu amigo, situada num local remoto, onde conseguem ser praticamente autosuficientes. No entanto velhas questões do passado vêm à superfície e instala-se a conflitualidade entre eles e também com os vizinhos...

Podia ser um episódio piloto de uma série pois havia pano para mangas neste filme onde, em vez de zombies, a ameaça vem dos fantasmas, neuras e vidas mal resolvidas dos próprios personagens, todos eles bem compostos, com histórias interessantes e muito good looking

Behind the Trees

Behind the Trees PosterUm jovem casal de namorados está a passar férias numa região remota da Índia quando, depois de um frustrado pedido de casamento, se perdem no caminho de regresso ao hotel.
Numa pequena aldeia testemunham aquilo que parece ser um exorcismo de uma criança que depois é trancada num cubículo no meio duma plantação. Libertam-na e levam-na com eles para o hotel...

Uma história de possessão demoníaca que, além de decorrer em local mais exótico e incomum, embora bem filmada, trás muito pouco de novidade ao tema. 

Devils, The | Os Diabos

Os diabos PosterO padre de uma localidade que está a sofrer os efeitos da peste, num universo paralelo, exerce uma forte atracção sexual sobre as mulheres que usa despudoradamente...

É preciso estar numa estranha sintonia com este cinema mais teatral onde todas as personagens parecem neuróticas. Um estilo muito inglês, que felizmente não fez escola.

Excision | Excisão

Excisão PosterUma adolescente com tantas fantasias sexuais bizarras quantas as borbulhas que tem na cara, não tem a melhor relação com o mundo e principalmente com a sua controladora mãe. Cada vez mais desconectada da realidade e sem o mais que necessário apoio psiquiátrico que precisava, vai executando os seus objectivos de vida...

A actriz AnnaLynne McCord compõe bem uma inestética e perturbada personagem mas é a ex-actriz porno Traci Lords, que faz de mãe, quem consegue dar algum equilíbrio e coesão a um filme que, apesar de nos deixar com o espírito temporariamente povoado com inúmeras imagens mais gráficas, nos deixa com uma mão cheia de nada.

Terminus

Terminus PosterA vida não corre bem a um mecânico que vive numa cidadezinha perdida na América profunda. E nem por isso melhora quando decide tornar-se o guardião de um objecto caído do espaço que tem a capacidade de regenerar o corpo humano. Recomposto de um acidente automóvel e novamente com os dois rins, vai contar com a ajuda da filha e de um ex-militar veterano sem uma perna, que também vai largar a prótese, para esconderem o artefacto alienígena de agentes de uma organização governamental que o perseguem...

Mais uma prova da vitalidade e qualidade do cinema independente norte-americano que com regularidade revisita temáticas sociais relacionando-as com a ficção cientifica, num registo nostálgico e realista.

Sorcerer | O Comboio do Medo

O Comboio do Medo PosterQuatro foragidos, cada um com um passado e razões distintas, tentam levar uma vida incógnita numa aldeia miserável num país da América do sul. Uma explosão num campo petrolífero, onde trabalham, provoca um incêndio que só se torna possível extinguir com a detonação de nitroglicerina. O explosivo encontra-se longe do local e os quatro são contratados para transportar as caixas contendo o perigoso produto em dois camiões degradados, tendo de atravessar a selva por péssimos caminhos... 

A milhas da popularidade que conquistou The Exorcist, estreado no mesmo ano de Star Wars, Sorcerer foi uma vítima do efeito eucalipto do filme de George Lucas, que inaugurava uma nova forma de fazer cinema, enquanto William Friedkin encerrava outra. Sorcerer é um filme épico, hiper-realista, talvez a obra prima mais esquecida da história do cinema e há quem o aponte como o melhor remake de sempre, do original de 1953, do filme francês Le salaire de la peur.

Sorceror (nome de um dos camiões e não de um qualquer feiticeiro que o público de então foi levado a pensar que iria ver), conta com uma sequência absolutamente fantástica, de uma cinematografia singular, quando os camiões atravessam uma ponte de cordas sob um gigantesco temporal. A sequência com cerca de 10 minutos terá custado três milhões de dólares e demorado meses a filmar. Hoje seria impensável "fabricar" algo assim. O CGI seria naturalmente a solução para criar uma cena tão complexa de modo a ficar tão perfeita como ficou.
As sequências iniciais do filme, que explicam o porquê do exílio forçado dos personagens são demasiado longas, parecendo confundir mais do que esclarecer. Também terão contribuído para a má receptividade do público.

1BR

1BR PosterUma jovem rapariga decidida a começar uma nova vida aluga uma casa em Los Angeles. Os vizinhos aparentam ser muito simpáticos e recebem-na calorosamente mas na realidade constituem uma seita com uma peculiar filosofia de vida e já têm planos para ela. Estão decididos a fazer-lhe uma lavagem cerebral para que se torne em mais uma deles...

O filme resulta muito bem, quer como filme de terror, quer como uma inteligente alegoria à sociedade moderna, aos padrões que ditam os nossos comportamentos em sociedade, impostos pela maioria... 
No final fica no ar um cheirinho a Twilight Zone...